Apontamentos para uma Simbólica do Engenho Velho da Várzea – Nº 1 (introdução)

I

À Guisa de Introdução

(Ex ungue leonem, ou seja, o leão a partir da unha)

Exercício complexo e ardiloso, o de buscar o passado das coisas em seus vestígios. Das coisas e das gentes. Aliás, nesse terreno movediço, em que se narra a história da presença humana, misturam-se, por vezes, a pesquisa e a efabulação. Poder-se-ia dizer, se verdade fosse, (pois não se trata de buscar a verdade das coisas) que se empreende uma tarefa metonímica, uma vez que, das minudências, dos resquícios do passado, dos pequeninos escolhos do tempo pretérito, tenta-se, a custo, engendrar o todo. Do totem ao totum, dir-se-ia…

Além da metonímia, imiscui-se, nesse método de trabalho, certa analogia com o fractal, aquele fragmento que reproduz o todo. Dessa analogia, num esforço de compreensão, retomaremos aqui, a ideia das origens exemplares, arquetípicas, míticas, e simbólicas, por assim dizer, ressignificando os achados ditos “históricos”, que eu prefiro adjetivar de “intra-históricos”, conceito que descobrimos em Dom Miguel de Unamuno, o grande pensador do povo basco.

Com essa insólita metodologia, podemos reconstruir, a partir de uma partícula do passado, seja um pequeno vilarejo, um arraial, um arrabalde; podemos, com esse método, reconstituir, com detalhes, um império desaparecido e até mesmo, descobrir universos. Sim, universos. Com pesquisa, metáfora e metonímia, qualquer um de nós poderá inventar universos (risos).

Mas, agora falando sério, como diz a epígrafe latina que abre esse texto, a partir do rastro, pode-se reconstruir o leão. Nesse pequeno ensaio, trata-se de empreitada mais difícil: reinventar o leão, não só a partir da sua pegada, mas, da sua garra, da sua unha. Essa pesquisa, apesar de amadorística e diletante, tem seu objeto de estudo. Esses apontamentos sobre uma Simbólica do Engenho Velho da Várzea, querem, ao fim e ao cabo, compreender essa pequenina garra que restou do velho Leão do Norte, a província de Pernambuco, escondida no arrabalde da Várzea do Capibaribe, ou seja, mais precisamente, esse arruadinho, minúscula unha encravada dentro do campus Recife, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) será o nosso objeto de estudo.

Por necessidade de ampliar o horizonte de nossos estudos sobre esse lugarejo varzeano, que habita o imaginário desse escriba e de todos os que querem, amorosamente, compreendê-lo, buscaremos analogias nas coisas miúdas, mas emblemáticas, que nos desvelem signos, insígnias, sinais, cuja exemplaridade aponte para uma representação ou representações simbólicas do nosso simbolizado, aqui denominado de Engenho Velho da Várzea.

pegada leão

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